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corpo
in
(visível)
Criação: Danilo Patzdorf e Cássia Aranha

Ficha técnica:
Bailarino: Danilo Patzdorf
Artista Visual: Cássia Aranha
Consultor para acrobacia aérea: Ricardo Rodrigues
Figurinista: Rafael Caetano

O Corpo In (Visível), que conecta dança e arte móvel, surgiu do desejo de criar uma dança site-specific que promovesse um diálogo poético não só com a arquitetura, mas também com os corpos "visíveis" e "in (visíveis)" que circulam no Centro Cultural São Paulo. Entende-se como o “in (visível)” o fluxo de informações que circula no ambiente digital e que no CCSP é potencializado pelo acesso gratuito à rede Wi-Fi. Por “arte móvel”, referimo-nos à criação artística a partir de dispositivos tecnológicos portáteis e que possuem conexão em rede sem fio. O intuito do projeto é, portanto, desenvolver uma obra artística site-specific híbrida que permita a sobreposição de camadas da realidade física/presencial com outras do virtual.

Para tanto, o projeto foi dividido em dois momentos de investigação: para a realidade física/presencial, investigamos a relação abstrata existente entre esses fluxos in (visíveis) e os espaços da rampa da biblioteca, jardim central e foyer do CCSP. O resultado desta criação coreográfica foi apresentado presencialmente pelo bailarino Danilo Patzdorf, onde, simultaneamente, o público pôde assistir pela tela do seu celular ou tablet uma videoperformance. Para isso, o público realizava a leitura de QRCodes (códigos de barras em 2D que podem ser reconhecidos por aplicativos de dispositivos móveis, celulares ou tablets e que armazenam informações textuais ou links para determinado conteúdo) fixados próximos ao local da performance.

Quando o público assistia à performance ao vivo, porém junto da videoperformance em seu celular, existia, naquele instante, uma sobreposição de uma imagem virtual do passado sobreposta no presente, ressignificando e atualizando a dança executada presencialmente.

No segundo momento, foram criadas instalações interativas em cada um dos pontos citados do CCSP, suspendendo-se os figurinos utilizados durante as performances. Desta forma, o público pode assistir em seu celular ou tablet, ao decodificar QRCODES adesivados no chão, as videoperformances gravadas e editadas em cada espaço. Ao assistir aos vídeos no local da performance, mas tendo apenas o figurino suspenso em vez do corpo do bailarino, esta instalação remete à ausência permanente de um corpo físico que poderia ocupar o espaço do vazio, mas que agora passa a habitar o in (visível).

Mas o que seria esse corpo/criatura in (visível) que habita simultaneamente os espaços físicos e digitais do CCSP? Nascido dos fluxos de informações, ele sempre existiu desde que o ser humano inventou a linguagem. Ele coabita todos os espaços onde a palavra, o gesto, a dança, o canto e outras abstrações humanas se manifestam. O corpo in (visível) é quem funda o humano. Contudo, hoje, por entre nós, surge um novo tipo de corpo in (visível). Os fluxos de informações digitais transmutam nossa carne para fazer nossos corpos habitarem infoespaços: aplicativos, fóruns e redes sociais nos lançam para novas dimensões de socialidade. Minha carne está aqui, no entanto transformo o mundo de lá. São nossos corpos in (visíveis) que viajam pelas redes digitais para habitar o mundo não só numa localização geográfica visível, mas também numa dimensão ubíqua (onipresente).

O corpo in (visível) não é formado de matéria orgânica e sua anatomia, os seus tecidos, seus órgãos, suas células possuem o limite do infinito. Nele não existe estagnação, inatividade, rigidez. Os seus movimentos são constantes e mesmo no aparente estado de repouso, dormência ou morte, ali habita a perpétua mobilidade.

O corpo in (visível) não toca a terra. Ele não está sujeito à gravidade. Seu eixo organizacional é múltiplo. Desorganizado, quando se conecta a algo ou alguém, atualiza-se numa forma aleatória que não corresponde às condições normais de temperatura e pressão. Ele cria e recria seu habitat. A sua identidade é multifacetada, carrega em si uma multidão que está distribuída nos espaços fluidos das redes digitais.

Mas todos estes movimentos, todos estes nascer-e-morrer, ir-e-vir, se dão numa abstração (quase-delírio) do corpo-dispositivo. Ao ver uma pessoa estacionada numa praça digital, não duvide: ela está ali e acolá. A carne em repouso pode significar, na verdade, uma dança voraz nas ambiências digitais. A excitação, o medo e a saudade têm o peso de um braço; os poros se dilatam, o coração pulsa, os olhos escaneiam. O nosso corpo in (visível) nasce nessa praça digital, e cria uma realidade mista que transcende os limites da arquitetura do CCSP e se amplia reticularmente para outros lugares habitados. É uma criatura andrógina flutuante em constante expansão, que rompe as barreiras do tempo e do espaço. O corpo, apesar de in (visível), possui uma intimidade escancarada, de tal modo que seus códigos ocultos são decifrados com um simples toque. O corpo in (visível) é um convite ao desconhecido, ao in (tocável) que já somos.

Esta criatura não tem gênero. Ela se livrou das determinações sociais para ser pura criação, devir-perpétuo. A subjetividade humana nunca foi delimitável, nunca foi cartografável – a não ser por interpretações reducionistas que sempre se esforçaram em nos dar um limite. A pele já foi nosso limite. A atmosfera já foi nosso limite. O inconsciente já foi nosso limite. O corpo in (visível) estraçalha os valores sociais para se impor numa dinâmica imanente (e não mais transcendente); e, por isso, ao visualizá-lo não devemos revesti-lo com a indumentária binária: roupa de menino, roupa de menina.

O Centro Cultural São Paulo, com o seu fluxo constante de pessoas, corpos visíveis interconectados, remetem a uma espacialidade tal qual a digital, promovendo o encontro e desencontro de pessoas de acordo com o cruzamento dos diferentes fluxos (informativos) e percursos (corporais). Múltiplos perfis compõem uma mesma paisagem, grupos de k-pop, tango, danças urbanas se intercalam em experimentações coreográficas. Simultaneamente, jogadores concentram-se em partidas de xadrez, leitores se misturam aos livros na biblioteca, pessoas transitam na lanchonete, teatro, cinema, jardim suspenso em uma fusão de imagens, ritmos, sons e silêncio.

O CORPO IN (VISÍVEL) também está pelo CCSP. Um espaço de fluxo constante de pessoas com diferentes objetivos, seja apenas utilizando-o como rota para alcançar o metrô [rota das rotas], seja para estudar ou assistir a algo, o CCSP é uma grande praça que agrega diferentes corpos em múltiplos percursos. Se o caminho descrito pelo andar de cada pessoa ficasse registrado no chão (não com tinta, mas com calor ou matéria), teríamos uma coreografia indecifrável de passos e pisadas. Não à toa, determinados cantos e corredores agregam dançadores que também - se fosse possível visualizar - carimbam seus corpos no chão e paredes desta grande praça. Como revelar estes registros? Enquanto praça digital, o CCSP também tem carimbado em si os fluxos informativos dos dispositivos digitais: que trajetos percorrem os corpos-in-(visíveis) por entre a arquitetura da praça digital do CCSP?

Se o dançar puder ser entendido como um alojar-se na encruzilhada dos diferentes estímulos corporais que perpassam os seres nômades, a dança do corpo in (visível) é o instante que plasma e revela aquela composição temporária que se forma no transcurso dos estímulos corporais com os fluxos informativos digitais, considerando assim os elementos materiais e imateriais, subjetivos e institucionais. Há uma arquitetura que se forma e se reforma a cada instante na praça digital do CCSP. O corpo in (visível) é o ser sensível, componente e reagente dessa dinâmica. Não é um fenômeno, mas um acontecimento.





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apresentações
27 a 29/11/2015





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